O biker W., de 22 anos, foi alvejado no olho direito, a menos de 10 metros de distância, por um policial militar que estava posicionado em frente à prefeitura no 2° Grande Ato Contra a Tarifa, promovido pelo MPL
Um mês depois de o governador de São Paulo, Geraldo
Alckmin (PSDB), ter vetado o projeto de lei que proibia o uso de bala de
borracha por policiais civis e militares do Estado, mais uma vítima foi
atingida pelo armamento menos letal. Desta vez, no olho direito. O
biker W., de 22 anos, não sabe se voltará a enxergar, depois de ter sido
acertado por um disparo feito por um dos policiais militares
posicionados em frente à Prefeitura de São Paulo no 2° Grande Ato Contra
a Tarifa, promovido pelo MPL (Movimento Passe Livre) na sexta-feira, 16
de janeiro de 2015.
“Eu não sei muito bem o que é esquerda e o que é direita.
Não sou ligado a nenhum movimento social. Estava na manifestação porque
eu acho R$ 3,50 caro. Apoio o povo que vai às ruas lutar pelos seus
direitos”, afirmou o jovem à reportagem da Ponte Jornalismo. “Tudo
aconteceu muito rápido. Quando estávamos nos preparando para ir à sede
da Secretaria Estadual de Transportes, teve uma confusão e um dos
primeiros disparos já me acertou. Eu estava de frente para a prefeitura,
próximo de uma banca de jornal. Eu vi o policial mirando em mim. Ele
estava a menos de 10 metros de distância”, disse W, que pediu para não
ser identificado.
Assim que o jovem foi atingido, ele afirma ter ficado sem
senso de direção. “Quando eu vi que a bala tinha me acertado, entrei em
estado de choque, sem saber o que fazer. Foi quando uma pessoa, que eu
nunca tinha visto na minha vida antes, me abraçou e me socorreu. Foi o
R. Eu ficava perguntando para ele se ficaria cego, e ele a todo momento
me acalmava. Pensei em pedir ajuda a um policial, mas fiquei com medo
de, além de estar ferido, ser preso”, afirmou W. no domingo, dia 18 de
janeiro, dois dias depois do disparo, em frente à prefeitura, onde
reencontrou R. Mas o reencontro não ocorreu pela segunda vez.
No sábado (17), R. estava acompanhado de seu amigo L. e da
namorada de W., a P. Os três ficaram o dia inteiro dentro da Santa Casa
de Misericórdia de São Paulo, onde o biker estava sendo examinado. Ele
foi liberado por volta das 20h30 e recebido por fortes abraços daqueles
que nunca tinha visto antes de sexta-feira. “Ainda não tenho nenhum
diagnóstico. Me informaram que meu osso ocular está quebrado. Ainda não
sei se vou voltar a enxergar. Consigo ver uns vultos pelo olho direito.
Mas quando a oftalmologista abriu meus olhos, eu fiquei preocupado
porque não consegui enxergar nada”, afirmou na saída do hospital. Os
médicos não conseguem definir o que acontecerá com a visão de W. porque o
olho dele está muito inchado, com sangue estancado e pus. É preciso
esperar.
R. afirma que o biker acabou indo de encontro a ele na
sexta-feira. “Nos encontramos próximo do viaduto do Chá. Não sabia o que
fazer. Na praça do Patriarca, homens da Tropa de Choque da PM estavam
atirando bombas. Na Líbero Badaró, o clima estava mais tenso ainda. O
jeito foi caminhar até a rua Xavier de Toledo. De lá, pegamos um táxi
até a Santa Casa”, disse. Com eles, foi junto um grupo de integrantes do
MPL. Depois que W. deu entrada no hospital, os manifestantes do Passe
Livre voltaram para o ato. “Foi um verdadeiro anjo da guarda, que vou
levar para o resto da vida”, disse W., inúmeras vezes.
Em meio à preocupação com sua saúde, W. está com medo
sobre seu futuro profissional. “Trabalho fazendo entregas de bicicleta.
Se eu perder um olho, não vou conseguir mais trabalhar, porque não vou
conseguir olhar quem ou o que estará do meu lado direito”. L., amigo de
R., assumiu a missão de ajudar burocraticamente o biker. “Vamos fazer os
corres que precisam ser feitos junto com ele. Para o que ele precisar.
Vamos continuar acompanhando no hospital, IML, Ouvidoria das Polícias e o
que mais for necessário. O importante agora é ele se cuidar”, afirmou
L.
A Ouvidoria das Polícias de São Paulo afirmou que tomou
conhecimento do caso nesta terça-feira, dia 20 de janeiro, e que vai já
preparou um ofício, que será enviado à Corregedoria da PM na
quarta-feira (21). Em nota, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) se
limitou a dizer que “desconhece o fato, pois não houve registro da
ocorrência”.
Fonte: Ponte Jornalismo
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