População adota “tática Black bloc”, só que sem máscara

                                                                                               População se revolta em Coari, AM (Foto: Portal do Holanda)

Três episódios de revolta popular acontecidos em diferentes partes do Brasil nos últimos 7 dias motivaram o título deste post. Em São Paulo, um grupo de moradores “sequestrou” uma equipe da Eletropaulo e só a liberou depois que a companhia fez o conserto da luz. Em Coari (AM), a população revoltada contra o atraso nos salários de servidores incendiou a casa do prefeito da cidade. E em Buriti (MA) um grupo de moradores incendiou o Fórum local, após o juiz negar o pedido de cassação do prefeito.

       Buriti (MA) um grupo de moradores incendiou o Fórum local, após o juiz negar o pedido de cassação do prefeito.

O “sequestro” da equipe da Eletropaulo, o tocar fogo na casa do prefeito e no Fórum – em cidades de São Paulo, Maranhão e Amazonas — são atos de revolta, de ação direta. Uma reação em grupo sem intermediários. Há a raiva e o alvo a ser atingido. O alvo é identificado como o símbolo de tudo aquilo que está errado: pode ser a sede da Prefeitura, o Fórum, a concessionária de um serviço público.

       Em Coari (AM), a população revoltada contra o atraso nos salários de servidores incendiou a casa do prefeito da cidade.

O caráter direto da ação lembra a tática dos Black blocs, os jovens que se mascaram nas manifestações e se fizeram conhecer ao Brasil a partir dos protestos de junho de 2013, com seus atos recebendo intensa cobertura midiática. Em geral jovens da chamada “nova classe média”, não são um grupo fixo mas antes adeptos de uma “tática”, que tem como objetivo denunciar ou combater “o sistema”. Sistema que, acreditam eles, os mantêm à margem, fora de condições igualitárias de competição, em um desnível social que a promessa do “mérito” não alcança.

Seus alvos costumam ser agências de banco e concessionárias de veículos, nos quais despejam, muitas vezes, seu “compêndio completo de desilusões”, conforme expressão de Esther Solano no livro “Mascarados, a verdadeira história dos adeptos da tática Black bloc” (Geração Editorial). Os jovens que adotam a tática Black bloc não são inocentes e sabem disso: vários estão fichados, outros presos.

Seja como for, há um momento específico no qual estas pessoas, em sua maioria estudantes e estudantes-trabalhadores, colocam suas camisas sobre o rosto, suas máscaras, e assumem uma identidade de grupo, partindo para a ação direta. Durante as manifestações este momento é conhecido como o de “morfar”. A hora exata de cobrir o rosto ou “morfar” – que vem do verbo inglês “to morph” ou  transformar uma imagem em outra – é a hora-chave da ação política dos “mascarados”, quando estes deixam de ser indivíduos, digamos assim, e passam a atuar em grupo.

Morfar é também o verbo dos Power Rangers, quando estes viram heróis no desenho animado:
“Eles tem um poder e uma força que você nunca viu antes/
Eles tem habilidade pra morfar e para ir além do recorde/
Ninguém nunca os derrotará/
O poder mora do lado deles”.
(tudo isso está no livro “Mascarados”, citado acima).
Nos episódios recentes de São Paulo, Amazonas e Maranhão, não houve máscaras, como entre os adeptos do Black bloc, mas as motivações parecem se irmanar: a falta de trato digno à população pelo poder público e a insensibilidade quanto às demandas dos cidadãos. E sobretudo são parecidas as reações das pessoas: agindo de forma violenta diretamente contra os alvos daquilo que percebem como os culpados pela situação ruim (ação, por sua vez, que por ser espetaculosa ganha a cobertura da mídia – sim, violência dá ibope – e que ao ganhar visibilidade adquire chances de resolução; uma tática, portanto).
Em 2015 a população vai se fazendo ouvir a seu modo. Com o que tem ao alcance das mãos. Será que a (prevista) piora da situação econômica vai levar muita gente a “morfar”, mesmo que sem máscara?

por Rogério Jordão / Yahoo! notícias

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