TODOS NÓS SOMOS ATEUS COM OS DEUSES DOS OUTROS



Apesar de ateu e crítico contumaz das grandes religiões, em especial a Católica, por conta das
práticas por ela adotadas a partir de sua "refundação" por Constantino, eu tiro o meu chapéu para o Papa Francisco (ou apenas Chicão, como gosto de chamá-lo - com a certeza de que ele não se ressentiria por isso caso nos conhecêssemos).
A partir do exato momento em que tomou posse - se é que assim se pode chamar o ato de se tornar de uma hora para outra a representação divina na terra - o argentino vem dando bofetões na cara da maioria dos católicos (e de muita gente, desde cristãos a ateus, passando por praticamente qualquer forma de crença ou descrença). A começar pela escolha do seu novo nome e seguindo-se por vários atos, o Papa Francisco deu um recado seco e direto: Tentaria ao máximo aproximar a Igreja e seus fieis daquilo que ela era em seus primórdios: Extremamente simples e pautada na fraternidade e solidariedade, afastando-a, consequentemente, do apego material e poder político acumulados ao longo dos séculos. De bate-pronto começaram as críticas: É um louco, um sonhador, lunático! Diziam os moderados enquanto a irresignável direita berrava: É um comunista, um esquerdistazinho, rebelde sem causa. Os mais agressivos chegaram ao ponto de, baseando-se em uma previsão apocalíptica da Idade Média, apontá-lo como o próprio anticristo, cujo objetivo seria semear o mal na terra maquiando-se de "bom moço".
Fato é que Chicão, forte como qualquer Francisco do sertão, não se abalou com as injustas críticas e, com sabedoria invejável e simplicidade impressionante, vem conduzindo a Igreja Católica para um caminho do qual há muito havia sido desviada. Seja através de seus gestos - que parecem despi-lo da pompa que o "cargo" impõe - das entrevistas e pronunciamentos contendo recomendações e reflexões ao público sobre históricos tabus (homossexualidade, celibato, sexo) ou de encíclica orientando a atuação do clero, o argentino vem mostrando ao mundo que, se realmente sonhamos com uma sociedade melhor, devemos nos livrar de preconceitos e egoísmos e nos pautar pelo respeito ao próximo e justiça - não esta que, de forma quase sempre equivocada, se pratica em tribunais, mas a verdadeira justiça: a social.
Sendo bastante sincrético - mas não menos verdadeiro - posso dizer que o Papa Francisco olha para o ocidente e diz: Joguem fora todo esse lixo que vocês entendem por moral e bons costumes e se acomodem na privada quando forem praticar o que acham que é correto (só que ele diz isso de uma forma tão sábia, respeitosa e inspiradora que através dele chego mesmo a duvidar da inexistência divina).
A última declaração contundente do Chicón foi sobre o caso "Charlie Habdo" e comprova o que digo: Enquanto o mundo esperava do líder supremo da maior religião ocidental algumas palavras agressivas de ódio aos islamistas pelo ataque terrorista em Paris, ele chegou manso e, com toda razão, contrariou o consenso afirmando que liberdade de expressão não significa liberdade de opressão e licença para desrespeitar. Se o ocidente quer ser respeitado, precisa parar de agir como criança mimada que deliberadamente desacata a tudo e a todos mas corre chorando para os braços da mãe ao ser repreendida.
Claro que Francisco repudiou o ataque ao jornal parisiense, afinal, atos de violência extremada como aquele são passíveis de repúdio, mas disse também que se não queremos que situações como aquela ocorram novamente, basta respeitarmos a religião dos outros. Pronto! Simples assim! Certamente o líder católico, assim como eu, considera no mínimo absurdo o fato dessas cabecinhas capitalistas e egocêntricas do ocidente não entenderem que, para os islâmicos, qualquer forma de representação de Alá é uma profunda transgressão, punível apenas com a morte, mas considerarem absolutamente normal e efetiva a aplicação da pena de morte em alguns casos e uso de violência e crueldade para com os criminosos (mas apenas os negros, pobres e favelados), incluindo menores de idade.
Enfim, pela simplicidade, caridade, sabedoria e justiça que carrega consigo, Mario Bergoglio definitivamente se junta a Che Guevara e Nahuel Moreno na lista de argentinos que admiro. Espero que lhe sobrem firmeza para desviar das forças que certamente tentam lhe derrubar e longevidade para ir driblando o destino de todo ser vivo e que assim possa seguir por muito tempo na vitrine do mundo, mostrando a todos a maneira correta de agir diante de várias situações. Se o mundo tomar este sul-americano simples, humilde e manso como exemplo, certamente os atos violentos - seja em nome de deus, alá ou qualquer outro mito - não mais terão motivo de existir.
P.S.: Certa vez li em algum lugar que "todos nós somos ateus com os deuses dos outros". Pois é... Mas seria bom que aprendêssemos a respeitá-los como os nossos!



Por Matheaus Siebra 
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