É uma experiência que a ativista dinamarquesa Emma Holten conhece muito bem. Com 17 anos, Holten descobriu que suas fotos nuas privadas haviam sido compartilhadas na internet. Depois de muitos anos, ela escreveu:
Em uma manhã comum de outubro de 2011, eu não conseguia acessar meu email ou meu Facebook. Não pensei em nada estranho naquele momento – eu esqueço minhas senhas toda hora – e simplesmente tentei de novo. Haviam centenas de mensagens e emails esperando por mim.Mensagens e emails com fotos minhas.Uma: eu, nua, no quarto escuro do meu ex-namorado. Dezessete anos, um pouco esquisita, ligeiramente curvada para frente: um tentativa inofensiva de parecer sexy.Outra: dois anos mais tarde, no meu quarto em Uppsala, Suécia. Mais velha, um pouco mais confiante, mas não muito.Estava claro o que havia acontecido: as fotos agora estavam online.
Holten não sabia quem havia compartilhado suas fotos privadas. Mais tarde, ela descobriu que as fotos foram enviadas para diversos sites e começou a receber mensagens de estranhos:
SEUS PAIS SABEM QUE VOCÊ É UMA VADIA?
VOCÊ FOI DEMITIDA?
QUAL É A HISTÓRIA POR TRÁS DISSO?
QUEM FEZ ISSO COM VOCÊ?
ENVIE-ME MAIS FOTOS NUAS OU EU VOU MANDAR AS QUE EU TENHO PARA O SEU CHEFE.
As mensagens eram de homens de
todo o mundo – “adolescentes, universitários, pais de família” – que,
conforme ela escreveu, sabiam que as fotos haviam sido compartilhadas
contra a sua vontade.
Eles sabiam que era contra a minha vontade e que eu não queria estar nesses sites. A percepção de que a minha humilhação os excitava me fazia sentir que tinha uma corda em volta do meu pescoço. O fato de as fotos terem sido postadas sem meu consentimento era erótico, eles se deliciavam com o meu sofrimento.
Quando suas fotos vazaram, ela culpou seu corpo por sentir a humilhação.
Três anos mais tarde, em uma tentativa de recuperar a autoridade sobre a sua própria imagem, Holten decidiu posar nua em uma tentativa de “reumanizar seu próprio corpo nu e de outras pessoas”.
Ela e a fotógrafa Cecilie Bødker decidiram fazer as fotos nuas com a intenção de torná-la um ser sexual, em vez de um objeto.
Ela lançou as fotos juntamente com seu artigo discutindo a ideia, chamado de “Projeto CONSENTIMENTO”.
Mas Holten não quer contar apenas sua
história pessoal – ela quer dar foco ao assédio, à objetificação e ao
abuso que todas as vítimas, como ela própria, vivenciaram.
“O que temos em comum, na verdade, é a
mentalidade destrutiva com a qual nos deparamos. O desprezo descarado
pelo nosso consentimento e nossa individualidade”, disse Emma Holten.
“Meu artigo fala sobre isso. Pornô não consensual não é apenas o ato de
compartilhar as fotos em si, é a constante falta de respeito pelo
consentimento de jovens mulheres. A sexualização do nosso abuso. É sobre
isso que o artigo fala”.
A resposta ao “Projeto CONSENTIMENTO” teve muita aprovação e também críticas.
Muitas pessoas se sentiram inspiradas e
empoderadas com o projeto”, ela disse. “Muitos outros chamaram as novas
fotos de ‘eu fazendo comigo mesma o que já haviam feito a mim’ e
‘contraintuitivo’, controverso. Eu digo: Ativismo político deve ser
contraintuitivo!”
Apesar das críticas, Holten
disse que ela estava determinada a começar um diálogo sobre o porquê do
corpo nu de uma mulher ser visto como algo vergonhoso.
“As pessoas parecem pensar que o pornô
de vingança é a pior coisa que você pode fazer porque o corpo nu é
vergonhoso, porque associar nudez com ser uma pessoa séria, pensante e
merecedora de respeito é algo conflituoso”, ela disse.
Ela acrescentou que sente que aqueles
que vão atrás das suas fotos – e as de outras vítimas – fazem parte da
“desumanização do corpo feminino”.
“Fazer isso é esquecer que essas
mulheres são pessoas que, ao fazerem poses sexys para uma pessoa, não se
tornam objetos sexuais. Fazer isso é o mesmo que esquecer que ninguém é
merecedor de ser reduzido a um objeto”.
“Pornô não consensual é um problema
sério porque ele ganha força não de uma pessoa que lança uma foto ou
vídeo, mas das milhares de pessoas que continuam a negligenciar o
direito da vítima ao consentimento”, ela disse.
Ela acrescentou que o problema do consentimento online deverá ganhar importância com o tempo.
“Nós precisamos ter essa discussão
agora. Ela é urgente. As pessoas estão se matando e sendo excluídas de
suas comunidades. Isso não se trata apenas de pornô não consensual, mas
do seu direito de discutir anonimamente sua sexualidade, vida pessoal,
segredos, afiliação política e tudo o mais, sem medo de ser assediado”.
O último recado de Holten sobre o problema? “Respeite as
mulheres e não nos trate como objetos sexuais que precisam provar que
merecem mais”.
Publicado Por Duda Renovatio em jan 12, 2015
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