Bali, na Indonésia, é uma
grande festa: cheia de turistas, praias paradisíacas, gente louca e,
claro, drogas. A festa não acaba nem quando um traficante é condenado à
pena de morte. Sim, na Indonésia tráfico de drogas resulta em pena de
morte, como recentemente vimos pela história de Marcos Archer.
Se a punição máxima, perder a própria vida, não detém os traficantes, o que nos faz pensar que algo deteria?
O tráfico de qualquer substância ilegal é baseado num princípio simples
da economia: oferta e demanda. Não existiriam drogas se as pessoas não
estivessem dispostas a pagar por elas. Enquanto houver demanda, haverá
oferta. E o princípio econômico dita que se há mais demanda que oferta,
os preços sobem. A Indonésia, e qualquer outro país cujas leis sejam tão
sevaras para traficantes, apenas aumentam o preço da droga, tornando
assim o tráfico mais lucrativo quando dá certo.
E quanto mais lucrativo é o tráfico, mais gente estará disposta a correr
o risco. E, claro, quanto mais lucro, mais os líderes do tráfico vão se
esforçar para levar drogas para este país. Ou você acha que a mula que
carrega as drogas pra dentro do país é um líder? Marcos Archer se foi,
mas existem muitos outros dispostos a tomar seu lugar.
Mas a proibição não reduz a demanda?
Basta lembrar da proibição ao álcool nos Estados Unidos. O que a
proibição ao álcool fez foi apenas aumentar os preços da bebida, reduzir
sua qualidade (tornando a bebida ainda pior para a saúde) e, claro,
forneceu o lucro necessário para tornar a máfia uma potência capaz de
rivalizar com o Estado. Qualquer semelhança com a política de proibição
às drogas e os carteis do narcotráfico não é mera coincidência. Se os
narcotraficantes são responsáveis por muitos crimes, não há outro
culpado pela sua criação se não a proibição à produção, comércio e
consumo de drogas.
A proibição não reduz a demanda, mas reduz a oferta e aumenta o custo do
produto. O custo de produção e comercialização aumenta graças a
subornos, gente presa/morta, custos logísticos, etc. Este aumento de
custos é repassado ao consumidor, mas não só o custo: quanto mais
arriscado é algo, mais é preciso se ter lucro para valer a pena. E se
algo dá mais lucro aos traficantes, mais atrativo torna-se entrar no
negócio. Por isso quando se prende um chefão outro toma seu lugar. A
guerra contra drogas é a guerra mais idiota, porque é impossível
vencê-la. Sempre haverá alguém tentando vender este produto altamente
lucrativo (e livre de impostos).
A proibição aumenta a potência da droga
Como
os custos logísticos e os riscos são grandes, é natural para o
traficante querer maximizar seu lucro (como qualquer empreendedor). O
traficante, como bom agente econômico, pensa “se o risco de ser preso é igual, vou traficar o que há de mais potente, pois isso renderá mais dinheiro com meus clientes”. E o fato é que as drogas ilegais têm ficado mais fortes com o tempo.
Não só faz mais sentido econômico traficar drogas mais potentes
(reduzindo portanto seu preço, lembre-se: mais oferta = redução de
preços), como também faz mais sentido econômico traficar drogas cujo
preço por quilo seja maior. Se o traficante pode ganhar mil reais com
100 gramas de algo, por que ele iria querer ganhar o mesmo com 1 kg de
algo? É muito mais fácil de transportar e esconder quantidades menores.
Portanto não é de se estranhar que haja mais incentivos de traficar
drogas mais fortes, como o crack e a cocaína, do que a maconha.
Não podemos esquecer que também há uma vantagem para o
usuário: quantidades menores de droga são mais fáceis de transportar e
esconder também.
Qual é a solução das drogas?
Liberar
geral. Proibir alguém de vender algo de sua propriedade que outra
pessoa quer comprar de livre vontade é imoral. É uma verdadeira
agressão! Agora se alguns malucos descobrirem que injetar sabão em pó
nos olhos dá um barato muito louco, isso justificaria proibir o sabão em
pó? Claro que não! Cada pessoa é dona de sua própria vontade e do seu
próprio corpo. Ninguém, muito menos o governo, deveria ter poder de
escolha sobre o que eu faço com meu próprio corpo.
Algumas pessoas são contra este argumento, dizendo que o governo tem sim
de evitar que as pessoas acabem com suas vidas. Isto é uma retórica
perigosa. O açúcar e a comida industrializada detonam com a saúde,
causando obesidade e diabetes, mas nem por isso se deve proibir as
pessoas de consumirem tais alimentos. Para um religioso, sexo antes do
casamento resultará em queimar no fogo do inferno, nem por isso se deve
proibir o sexo antes do casamento. Os exemplos abundam, mas o que eu
quero dizer é que o julgamento de “isto acaba com a vida” deve ser pessoal. Ninguém, muito menos o governo, tem o direito de controlar o que eu causo a mim mesmo.
Enquanto isso não mudar, infelizmente
continuarão morrendo e sendo mortos traficantes, usuários, policiais,
produtores… enfim, continuaremos acabando com muitas vidas para garantir
que pessoas que querem se drogar não acabem com suas próprias vidas.
E
o mais interessante é que, mesmo com medidas draconianas, não
conseguimos fazer com que as pessoas não se droguem. Se duvida, passe
umas férias em Bali e veja por si mesmo.
Fonte: Medium Brasil
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