Por que os pelos corporais femininos incomodam tanto, são tão ofensivos, sujos, anti-higiênicos, imorais, obscenos, pervertidos?
(aliás, menos os pelos do topo da
cabeça, claro: esses são considerados importantíssimos, definidores de
feminilidade, dignos de gastos enormes em produtos e serviços, ao ponto
que, quando ando com minha companheira de cabeça raspada, ela causa mais surpresa e consternação do que se tivesse arrancado um braço e não apenas pelos.)
O que nos assusta não são pelos, é a sexualidade feminina.
Uma mulher com pelos no corpo é uma primata adulta, madura, pronta para usar e dispor de sua própria sexualidade.
Naturalmente, nossa sociedade
outrofóbica não pode tolerar uma liberdade dessas: metade das nossas
leis e costumes ancestrais têm como objetivo explícito conter a
sexualidade das mulheres.
Não queremos mulheres adultas e sim
seres assexuais e impúberes, sem pelos justamente nas áreas onde a
existência de pelos indica maturidade, para que possamos nos enganar
que, na verdade, não têm sexualidade, não têm desejos, não cagam, não
suam, não gozam.
(e, naturalmente, quando esses seres
impúberes, assexuais e angelicais se dignam a transar conosco, é porque
somos a exceção, é porque somos especiais, como não?!)
O tabu dos pelos corporais femininos só
existe pois eles são um lembrete visual e concreto de que as mulheres
adultas são primatas que fodem.
por Duda Renovatio
Foto: Alex Castro & Claudia Regina em ensaio fotográfico peludo & pelado, político & poético, para o coletivo além.
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