Não será fácil para o Ceará contornar a crise de grandes proporções
instalada no sistema de saúde do Estado. Os problemas são diversos. Sim,
o drama é nacional, mas ganhou relevo especial no Ceará. Em outros
estados, não há registro de pacientes sendo atendidos no piso de
unidades hospitalares. Também não há registros da expansão do sarampo,
uma doença grave que deveria estar sob controle e que empurra para baixo
os índices de saúde do Brasil.
A gestão das políticas de saúde do Ceará tem se mostrado desastrosa. A
opção pelo crescimento estrutural do setor público gerou uma crise de
financiamento. Não é racional o sistema que precisa transportar (ida e
volta) os médicos de avião todos os dias para fazer funcionar o hospital
regional de Sobral.
A gestão do sistema hospitalar público do
Ceará, incluindo Upas, está há anos sob controle de uma organização
social denominada ISGH, que já foi comandada pelo novo secretário da
Saúde, Henrique Javi. O ISGH é regido por um regime legal diferenciado
que lhe permite mais liberdade de ação e, ao mesmo tempo, baixo índice
de transparência e controle social.
Nas poucas explicações que
concedeu acerca de sua saída da pasta, o médico Carlile Lavor deixou
nas entrelinhas algumas suspeitas que recaem sobre os profissionais que
há anos controlam o dia a dia da Secretaria. É provável que estivesse
falando do ISGH e da burocracia que gerencia o sistema de internamento
hospitalar.
Em uma entrevista, Lavor chegou a apontar a
“incapacidade de coordenação dos profissionais que integram o órgão”
como um dos motivos de sua saída. Noutro momento, disse que a “Saúde tem
vários problemas e é essencial que haja uma coordenação muito tranquila
para levar adiante as ações. Como os pensamentos na Secretaria são
muito diferentes, isso criou muita dificuldade”.
Atentem que
raramente Lavor reclamou de recursos financeiros. São elementos
suficientes que chamam a atenção para um modelo de gestão que fracassou.
É uma pena que o ex-secretário não tenha sido mais claro e objetivo.
Teria dado uma contribuição importante para desvendar os problemas
administrativos que levaram o sistema ao estrangulamento.
Fonte: O Povo
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