Do preconceito às filas gigantes, Companhia de teatro formada por travestis é sucesso no Ceará


O sucesso na estreia da peça “Quem tem medo de travesti”, no mês passado, com pessoas na fila por mais de três horas e a necessidade de uma segunda sessão, não foi por acaso. Desde 2008, o coletivo

As Travestidas, criado pelo ator e diretor Silvero Pereira, realiza trabalhos com travestis e transformistas do Ceará, com o objetivo de usar a arte como transformador social e incluir artistas talentosos — que antes, por preconceito, não tinham espaço — no circuito teatral brasileiro. Hoje com casas cheias e ingressos disputados, a companhia e os artistas comemoram com o público, a mudança de pensamento de muitos que, antes, se afastavam, por preconceito.

Na peça, em cartaz até o fim de maio no Sesc Iracema, em Fortaleza, a parceria entre Silvero e a diretora Jezebel De Carli aposta, mais uma vez, na ideia de fazer o espectador refletir e enxergar a realidade de travestis no cotidiano. Em cena, travestis aparecem em figurinos discretos, descaracterizando o esteriótipos, e contam histórias reais, vividas por elas mesmas ou por outras pessoas, em pesquisa feita pela diretora do espetáculo. “Quem tem medo de travesti”, para a companhia, é a síntese da história do coletivo, de suas causas, lutas e objetivos.


— Esse espetáculo é o resultado de quatro anos de pesquisas e produção e resume bem a desconstrução feita pela companhia, desde o início. No início, muita gente olhava com preconceito, dizia que era uma fábrica de travestis, que a gente só fazia viadagem. A gente hoje tem outra representação. As meninas, antes afastadas, estão incluídas na sociedade. “Quem tem medo de travesti” desconstrói muita coisa. A peça é um questionamento. As pessoas chegam se perguntando se têm medo de travesti e saem se perguntando por que elas tinham medo de travesti — explica Denis Lacerda, ator do coletivo desde 2008.


No início, rejeição inclusive da classe artística

As filas são resultado de um trabalho dedicado de Silvero, que criou a companhia a partir de uma inquietação de tentar entender o mundo das travestis e a relação da sociedade com elas. Hoje o grupo reverbera a pesquisa do diretor e alcança pessoas antes distantes.

— Silvero mergulhou nesse mundo ao perceber que, à noite, homens de um bairro onde ele morava em Fortaleza se relacionavam com as meninas que faziam ponto e, durante o dia, as excluíam. Toda aquela história que a gente já conhece. Ele viu a necessidade de falar sobre isso, de entender o que acontecia com elas e começou a viver com elas, fazer ponto com as meninas, pra ter o olhar de como elas viviam. Com o tempo ele começou a perceber que o transformismo não tinha respeito, principalmente na classe alta de Fortaleza — conta Dênis.


No início, o diretor teve dificuldades até para arrumar artistas que aceitassem embarcar no projeto, por preconceito. Hoje, a reação da plateia a cada apresentação mostra, segundo Dênis, que valeu o esforço de Silvero.
— Hoje a gente tem outra representação. Chegou um outro público e se juntou às pessoas que assistiam e a gente está muito feliz, porque conseguiu um público muito acolhedor. A gente quer focar que as pessoas saiam pensativas do espaço e comecem a se ver de maneira diferente — diz o ator.
“Quem tem medo de travesti” está em cartaz às quintas-feiras de maio no Sesc Iracema, em Fortaleza. Depois, o grupo apresenta o espetáculo às terças-feiras de junho, no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, também na capital cearense. A peça deve seguir em turnê nacional ainda neste ano.
Serviço
“Quem tem medo de travesti”
Terças-feiras de maio, 20h, no Sesc Iracema.
Endereço: Rua Boris, 90 - Praia de Iracema - Fortaleza - Ceará.
Ingressos: R$ 20
Mais informações na bilheteria do teatro: (85) 3452-9090

Leia mais: http://extra.globo.com/noticias/brasil/do-preconceito-as-filas-gigantes-companhia-de-teatro-formada-por-travestis-sucesso-no-ceara-16168467.html#ixzz3aJm4NQi8



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