PARA DERROTAR TODOS OS FUNDAMENTALISMOS



Pensei muito antes de escrever este post.
E resolvi escrevê-lo.
O PSOL é um partido público. E devemos satisfação de nossos atos, de nossas contradições a todxs que nos observam, simpatizantes ou não, filiados (as) ou não.
Peço, desde já, desculpas pelo tamanho do texto. Só agora pude postá-lo, nesse horário que ainda tenho.
É por isso que venho aqui expressar minha posição pública como militante político do PSOL e, sobretudo, anti-capitalista.
Nós construímos o PSOL - tanto nós que nos somamos desde sua fundação - como todxs que se somaram ao longo de nossa caminhada - para ser um pólo agregador da esquerda social e combativa que não se rende ao pragmatismo eleitoral, nem à ditadura do mercado capaz de incluir apenas pelo consumo, apenas quem tem dinheiro.
O PSOL nasce para ser um partido amplo e democrático. Mas sua amplitude tem um horizonte e um programa que o definem, não para limitá-lo, mas para caracterizá-lo.
O PSOL é um partido que defende todas as liberdades individuais, todas. Entre elas, livre expressão religiosa, da fé e da não-fé, a livre expressão de qualquer convicção política, acadêmica e ideológica, desde que não atentem contra a dignidade humana - que fique claro. A liberdade não é qualquer liberdade - posto que não defendemos a intolerância, o preconceito, portanto, não se pode confundir liberdade de expressão com liberdade de opressão.
O PSOL tem estado presente em todas estas lutas, junto com os movimentos sociais. Nas lutas em defesa da livre orientação sexual, identidades de gênero, do pluralismo religioso, étnico, contra toda e qualquer forma de preconceito, contra o machismo, sexismo, racismo e homolesbobitransfobia, contra a intolerância religiosa.
Na luta pelos diversos direitos humanos, dos povos indígenas, crianças e adolescentes, juventudes, negras e negros, idosos e idosas, pessoas com deficiência, mulheres, lgbts.
Nas lutas das classes trabalhadoras, todas elas, contra a redução de direitos.
Na luta por moradia digna, educação, saúde e transporte público de qualidade.
Na luta por outro modelo político, radicalmente participativo, independente do capital privado e profundamente democrático.
E tudo isso, compreendendo, que estas lutas estão sintonizadas e se articulam na defesa de outro modelo societal: um mundo de mulheres e homens livres.
Chegamos a um momento na história, onde conseguimos produzir o suficiente nas mais diversas áreas e com os mais diversos recursos tecnológicos à disposição.
Mas os meios de produção estão sob controle de uma pequena minoria de capitalistas que determinam quem pode e quem não pode ter acesso ao que foi social e historicamente produzido pela maioria da humanidade.
Portanto, é preciso repensar e mudar as base sociais, culturais, políticas e econômicas que sustentam os atuais modos de vida geradores de opressões e da exploração do ser humano por outro ser humano.
Essa é o horizonte estratégico com o qual trabalhamos.
Entretanto, ser um partido que disputa a institucionalidade, nos coloca frente a uma série de desafios e contradições.
Por ser um partido amplo, está aberto ao risco e campo de possibilidades de ser disputado mesmo por segmentos conservadores que se infiltram em nosso partido e geram contradições e divergências de compreensão em como lidar com isso, a ponto de alguns setores do partido vacilarem na caracterização do tamanho da contradição e na forma de lidar com ela.
Nosso partido - o PSOL - passou por vários desses momentos.
Já tivemos uma presidente do partido que também foi candidata a presidente, Heloísa Helena, que - a despeito de sua trajetória e importância histórica na oposição de esquerda à adesão do governo Lula à ordem - reunia em torno de si um grupo partidário com o qual ela considerava poder submeter a todos às suas posições de maneira profundamente personalista como costuma ser prática corrente na política brasileira.
Nós aprendemos muito e demos um exemplo de democracia quando a voz da base partidária superou o personalismo de uma companheira que queria submeter todo o partido às suas posições individuais.
Hoje ela se encontra engajada na construção de outro projeto político, embora ainda com a legenda do PSOL. Mas sem expressão interna, e sem representação pública em nome do partido.
Nós passamos por outros momentos difíceis e de enfrentamento interno.
Superamos o marinismo dentro do PSOL, quando setores defendiam aliança ou mesmo apoio direto à Marina Silva que - já naquela época - em 2010, mostrava-se como porta-voz de uma economia verde ou de um eco-capitalismo que é uma contradição completa. Marina era outra via de banqueiros e setores capitalistas que visavam lucrar com o discurso ambiental. Além de cada vez mais se mostrar como uma porta-voz conservadora da sociedade.
Em 2014, conseguimos superar o desastre que seria ter como candidato um senador que, em nada nos representa, recebendo apoio de políticos da direita, para garantir sua eleição ao senado e de um aliado interno seu dentro do PSOL à prefeitura de Macapá.
Esse pragmatismo aliancista que sempre combatemos dentro de um certo partido que aderiu à ordem não cabe no PSOL.
As portas do PSOL continuam abertas para que o senador busque um caminho coerente com suas posturas.
A base do Partido, majoritariamente, nunca se sentiu representada por aquele senador.
Agora, estamos diante de outro desafio.
Um deputado fundamentalista entre nós.
É uma tragédia que, diante da grave crise ambiental (sim - esta que tem sido ofuscada por outras - mas que está intrinsecamente ligada a todas as outras), econômica e política que vivemos, ter que conviver com um deputado fundamentalista entre nós.
E assim, chego, após um dia exaustivo de trabalho (apenas à noite tenho tempo de informar mais sobre tudo - esse turbilhão que é o mundo que hoje vivemos), vejo mais uma do Cabo Daciolo.
Começo por dizer: Não é de Deus, nem do cristianismo, nem de fé que se trata.
Eu sou gay, cristão e socialista e tudo isso e mais compõem unitária e dialeticamente minha existência. Não sou um ser compartimentado.
Não defendo uma sociedade em que nenhuma religião se imponha.
Cada um(a) tem e deve ter o livre direito de expressar sua fé e sua não-fé. Sim, o Estado, não é só dos meus irmãos e irmãs cristã(o)s, deve estar a serviço de todos os seres humanos, independente de suas religiões, dos ateus e das ateias. Independente de orientação sexual, etnia, gênero.
Portanto, todo poder, num Estado laico, e numa sociedade plural deve sim ser exercido soberanamente pelo povo.
Se parte deste povo age instruído ou inspirado por sua fé, é um direito garantido constitucionalmente.
Assim como é garantido também a que qualquer parcela deste mesmo povo aja sem qualquer crença num ser supremo ou qualquer ordem ou crença religiosa.
É uma pena ver hoje cristãos cometerem as mesmas atrocidades e agirem da mesma forma que os fariseus.
Peço licença aos não-cristãos(as) que lêem este meu longo post para afirmar que:
O Cristo que acredito e que conheço não nos pediu para erigir estátuas para ele, menos ainda um Estado que comande o povo em seu nome.
O Cristo que conheço não esteve ao lado das autoridades, não era no trono que ele se encontrava.
Foi um Cristo que desafiou os podres poderes terrenos. Mas não fez isso com exércitos para proteger os templos. Foi com uma palavra extremamente revolucionária, com uma mensagem de amor, de respeito e de tolerância.
Mas, claro, o Cabo Daciolo e qualquer outro (a) pode ter uma perspectiva teológica diferente da minha.
Não há problema nisso.
Num Estado democrático e de direito, todos(as) podemos divergir.
É por este e outros motivos, pela garantia das liberdades individuais, entre elas, a de expressão da fé e não fé.
Pela desmilitarização do Estado, da sociedade, da vida, da política.
Contra toda forma de preconceito, exploração e opressão.
É para isto que nós somos PSOL!
O PSOL precisa ser claro. Nós precisamos ser profundamente claros e devemos coerência não apenas com aquelas e aqueles que apostam em nosso partido como um dos instrumentos necessários à transformação social.
Mas precisamos ser claros com todas e todos que defendem um mundo novo.
E com todas e todos que nos observam.
Por isso, agora dirijo-me a todas e todos que, em algum momento, tiveram ou estão com dúvidas com relação ao PSOL por este ou outro motivo:
Nós, do PSOL, somos um partido diverso, mas claramente anti-capitalista, anti-machista, anti-homofóbico, anti-racista.
Mas optamos por ser um partido aberto, diferente dos antigos formatos leninistas.
E, diante disso, vivendo numa sociedade profundamente contradítória, é possível que tenhamos que lidar com situações como essas.
O desafio que nos coloca é:
Na já difícil e árida realidade brasileira, em que sabemos diante de todo o lixo midiático, da exploração cotidiana do capital, o quanto é difícil construir uma alternativa de esquerda anti-capitalista ampla e democrática que consiga dialogar com milhões.
Nesse terreno, se nós consideramos necessário. Mais do que isso, se nós consideramos uma urgência uma alternativa e um pólo de esquerda com peso social.
Este não é o momento para espiar o PSOL.
Este é o momento de crescer o PSOL como alternativa de esquerda.
Nós somos o PSOL. Não Daciolo.
É o crescimento de uma esquerda militante e coerente dentro do PSOL que permitirá vencer os personalismos e, neste caso, os fundamentalismos, que querem se utilizar do PSOL.
Eu defendo a expulsão de Daciolo, que ele leve o mandato, mas não carregará consigo nossa história e nossa coerência.
Agora eu igualmente convoco a todas e todos que não ajamos como espectadores externos. Mas como militantes que - sabendo da responsabilidade história e da dificuldade imensa de construção de um pólo de esquerda amplo e socialista - nos engajemos na viabilização do PSOL como essa ferramenta.
Porque nós é que somos o PSOL. Ele é muito maior e será ainda mais com a força viva de nossa militância.
Convoco a todas e todos que defendem uma sociedade de mulheres e homens livres, socioambientalmente justa, a se juntarem a nós na construção desta que pode ser uma alternativa de fôlego para enfrentar os ataques à classe trabalhadora e contrapor-se ao conservadorismo político e social.
Para derrotar todos os fundamentalismos: religioso e do mercado, o PSOL é um partido necessário. Juntemos-nos, pois!

Ailton Lopes 
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