O lado 'Babilônico' da Bíblia que os pseudo-crentes preferem ignorar
MARIDOS & ESPOSAS
O Velho Testamento deixa claro que as mulheres deveriam ser
funcionárias de seus maridos, com deveres e direitos. Se uma esposa
fosse “demitida” pelo parceiro, por exemplo, ela podia ganhar uma carta
de recomendação para a moça utilizá-la como trunfo na hora de tentar uma
vaga de mulher de outro sujeito.
A poligamia era regra. Tanto
que o primeiro caso aparece logo no capítulo 4 do primeiro livro da
Bíblia: “E tomou Lameque para si duas mulheres” (Gênesis). A situação
era tão comum que vários dos personagens mais importantes do Antigo
Testamento viviam com mais de uma esposa sob o mesmo teto.
[...]
Nunca na história do Livro Sagrado houve maior predador matrimonial que
Salomão, o rei: foram 700 esposas. Setecentas de papel passado, já que o
sábio soberano ainda mantinha 300 concubinas.
O Novo Testamento
não cita tantos exemplos de poligamia, mas sugere que ela ainda era
comum no século 1. Jesus não toca no assunto, mas, em duas cartas, são
Paulo recomenda que os líderes da nova comunidade cristã tivessem apenas
uma esposa porque “assim eles teriam mais tempo para dedicar aos
fiéis”.
“O cristianismo só refuta a poligamia quando se aproxima
do poder em Roma, que proibia essa prática”, afirma o historiador Marc
Zvi Brettler. Como escreve santo Agostinho no século 5, “em nosso tempo,
e de acordo com o costume romano, não é mais permitido tomar outra
esposa”.
“As mulheres sejam submissas a seus maridos.”
(Colossenses, 3, 18)
Bíblia não condena aborto nem a poligamia, afirma estudioso
novembro de 2010
SEXO
Uma série de regras estabelece como deve ser a vida sexual: toda mulher
tem de se casar virgem, ou então poderá ser dispensada pelo marido.
As leis sexuais eram bem abrangentes: “Quem tiver relações com um
animal deve ser morto”, diz o Êxodo. E a masturbação também não pode.
Como diz o sutil são Paulo: “A mulher não pode dispor de seu corpo: ele
pertence ao marido. E o marido não pode dispor de seu corpo: ele
pertence à esposa.”
“O sexo na Bíblia é cheio de contradições”,
diz o arqueólogo Michael Coogan, autor de God and Sex (Deus e o Sexo).
“É de se desconfiar que fossem realmente levados a sério naquela época.”
“E possuiu também a Raquel, e amou também a Raquel mais do que a Lia.” (Gênesis, 29, 30)
Bíblia é tão machista como Corão: ambos mandam a mulher se calar.
NEGÓCIOS E FINANÇAS
A cobrança de juros é proibida. As ordens se repetem ao longo da
Bíblia, sempre em tom firme: “Não tomarás deles juros nem ganho”
(Levítico). [...] Mas existe uma exceção: nos casos em que o empréstimo é
concedido a um não judeu (“um estranho”, nas palavras de Deuteronômio) é
permitido praticar a usura. Até por isso os judeus se tornaram os
grandes banqueiros da Idade Média.
Se o Livro Sagrado proíbe a
cobrança de juros, mas só entre judeus, o mesmo vale para a escravidão.
Você pode ter escravos, contanto que “sejam das nações que estão ao
redor de vós; deles comprareis escravos e escravas”, diz o Levítico.
“Ao estranho, emprestarás com juros.” (Deuteronômio 23:20)
MARVADO VINHO
O álcool nem sempre foi consumido com moderação na Bíblia. A palavra
“vinho” é citada mais de 200 vezes, e os porres são frequentes: Noé é
embebedado pelas filhas, e Amnon, filho de Davi, está mais pra lá do que
pra cá quando é assassinada por ordem de seu irmão Absalão — a
interessar: foi pelo crime de ter estuprado a própria irmã, Tamar.
“Os sacerdotes são orientados a não beber antes de entrar no tempo, e o
álcool é relacionado à perda de controle pessoal e da capacidade de
diferenciar o bem do mal. Mas nada no texto bíblico proíbe o consumo”,
diz o historiador Marc Zvi Brettler.
O álcool chega a ser
recomendado para curar os males da alma. Está em provérbios: “Daí bebida
forte ao que está prestes a perecer, e o vinho aos amargurados de
espíritos”.
E tem o primeiro milagre de Jesus: transformar água em vinho — segundo o evangelista João, no melhor vinho da festa.
São Paulo vai mais além: recomenda a um discípulo, Timóteo, que troque a água pelo vinho.
“O chefe do serviço provou [o vinho que Jesus criara a partir da água] e
falou com o noivo: ‘Tudo guardaste o melhor vinho até agora!’” (João 2,
7-10)
Vinho feito em abadia é símbolo de alcoolismo na Escócia
fevereiro de 2010
SAÚDE E EDUCAÇÃO
[...] Ao longo da infância, os pais têm a obrigação de repassar a eles a
palavra de Javé. Já o Novo Testamento é mais pedagógico, digamos assim:
enfatiza a educação pelo bom exemplo dos pais. [...] Quando não
funcionar, o Antigo Testamento indica que um bastão flexível deve ser
usado para bater nos desobedientes. O objeto tem até nome, vara da
correção, e é indicado para qualquer situação em que o pai considere que
a criança não seguiu suas instruções. “A vara e a repressão dão
sabedoria, mas a criança entregue a si mesa envergonha a sua mãe”
(Provérbios).
“O sacerdote examinará a praga na pele da carne;
se o pelo na praga se tornou branco, (...) é praga de lepra; o sacerdote
o examinará, e o declarará por imundo.” (Levítico 13:3).
Malafaia cita castigo bíblico à vara contra lei que pune pais violentos
dezembro de 2011
HOMOSSEXUALIDADE
O amor entre homens era punido com a morte — a não ser que você fosse o
rei Davi. Os livros Samuel I e Samuel II contam a história da amizade
entre ele e Jonatã, filho do rei Saul, antecessor de Davi e candidato
natural ao trono de Israel. Davi acaba escolhido para a sucessão, mas
isso não abala o relacionamento dos dois. Está escrito: “A alma de
Jonatã se ligou com a alma de Davi. E Jonatã o amou, como à sua própria
alma” (Samuel I).
Em outra passagem, Jonatã tira todas as
roupas, entrega a Davi e se deita com ele. “E inclinou-se três vezes, e
beijaram-se um ao outro” (Samuel I). “Esse relato incomoda os
intérpretes tradicionais da Bíblia, que tentam explicar a relação como
uma forte amizade, e o beijo como um costume comum entre homens”, diz o
historiador finlandês Martii Nissinem, da Universidade de Helsinki e
autor de Homoeroticism in the Biblical World (Homoerotismo no Mundo
Bíblico). “Mas é difícil negar a referência à homossexualidade nesse
caso, mesmo que a lei judaica a proíba expressamente.”
Para
alguns especialistas, o Antigo Testamento também sugere um
relacionamento homossexual entre duas mulheres, Noemi e sua nora Rute.
Está no livro de Rute um trecho em que ela diz a Noemi: “Aonde quer que
tu fores irei eu, e onde quer que pousares, ali pousarei eu. Onde quer
que morreres morrerei eu, e ali serei sepultada”.
“Estou angustiado por causa de ti, Jonatã. Mais maravilhoso me era teu amor do que o amor das mulheres.” (Samuel II 1, 26).
SACRIFÍCIO
Muito sangue jorra na Bíblia. Abraão é orientado a sacrificar seu
próprio filho Isaac a Javé — e teria obedecido, caso um anjo não
aparecesse no ultimo minuto dizendo ser tudo um teste para sua fé. Além
disso, durante os 40 dias em que Abraão detalha suas regras ao
patriarca, Deus exige uma série de sacrifícios de animais.
Os
rituais são descritos com grande riqueza de detalhes. Moisés manda matar
e drenar 12 bois. O sangue é colocado numa tina. Metade é lançada no
altar e o resto sobre a multidão. Carneiros abatidos são esfregados no
corpo de fiéis, que seguram seus rinas nas mãos para oferecê-los a Javé.
Pedaços de bichos são queimados sobre o altar. Era uma forma de trocar
favores com os deuses.
“O sangue é o maior símbolo da vida. Ao
usá-lo em rituais, os fiéis reforçam seu vínculo com a divindade e se
purificam”, diz Richard Friedman. [...] ”Na interpretação cristã
posterior, o próprio Jesus é considerado o sacrifício final, que limpa
os pecados da humanidade de forma definitiva, o que dispensa a morte de
animais.”
“Derramar-se-a seu sangue me volta do altar. Será
oferecida a cauda, a gordura que cobre as entranhas. Os dois rins e a
pelo que recobre o fígado.” (Levítico 7, 2-4).
CRIME E CASTIGO
Sequestro, adultério, homossexualidade, prostituição.... Tudo dava pena
de morte. Até fazer sexo com uma virgem poderia custar a vida do
“criminoso”. Adorar outros deuses também trazia problemas sérios. Moisés
mandou matar 3 mil judeus por causa disso.
O Levítico também
manda matar prostitutas a pedradas. Não caso de a moça ser filha de um
sacerdote, a punição é pior: “Com fogo será queimada”.
Em geral,
a pena de morte por apedrejamento não precisava ser julgada pelos
sacerdotes. A maioria dos crimes recebia punição na hora, diante de um
grupo de pessoas que presenciaram a cena ou que estavam por perto da
cena do crime.
O Antigo Testamento estabelece que toda mulher
menstruada é tão impura que até mesmo os lugares onde ela senta devem
ser evitados. Se um homem encostar na esposa, na mãe ou na irmã nesse
período do mês, ele não pode sair de casa por sete dias. E, se o fizer,
pode ter de pagar uma multa.
Como o Antigo Testamento não aceita
o aborto, é crime provocá-lo, mesmo que por acidente, mas a pena
depende da gravidade da situação.
Em caso de roubo e furto ou
qualquer outro prejuízo ao patrimônio alheio, a pena é o pagamento de 4
vezes o valor do bem que foi levado ou destruído. Se a pessoa que
cometeu a infração não tivesse condições de pagar, podia ser vendida
como escrava.
“Quando houver moça virgem, desposada, e um homem a
achar na cidade, e se deitar com ela, então trarei ambos à porta
daquela cidade, e os apedrejareis, até que morram.” (Deuteronômio
22:23-24)
trechos do texto de Alexandre Versignassi e Tiago Cordeiro para Revista Superinteressante de junho de 2012
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