DIGA NÃO AO PRECONCEITO. DIGA NÃO A HOMOFOBIA.
Pela morte do jovem Peterson, 14 anos, filho de PAIS, agredido e morto por todos nós.
Pela morte do jovem Peterson, 14 anos, filho de PAIS, agredido e morto por todos nós.
Mais um dia de escola, pensei desmotivado. Caminhei os 30 minutos que separam minha casa da escola. E lá estavam eles, pontualmente, em seus postos prontos para:
Me atacar, me ofender, me violentar, me desmotivar, me humilhar, me fazer chorar, me fazer urinar, me fazer cagar, me fazer ter medo, me fazer ter ódio, me fazer... Me fazer infeliz, me estimular a querer morrer.
Me atacar, me ofender, me violentar, me desmotivar, me humilhar, me fazer chorar, me fazer urinar, me fazer cagar, me fazer ter medo, me fazer ter ódio, me fazer... Me fazer infeliz, me estimular a querer morrer.
Então, passei, e me chamaram. Acabei correndo para dentro da sala de aula.
No intervalo o ciclo recomeça outra vez. As horas não passam... Arrastam-se, mas enfim, o sinal toca. Agora, já estou de volta aos meus 30 minutos de caminhada.
Passei e me chamaram, acabei correndo com medo.
Outro dia se foi, chego a minha casa. Estou com os olhos marejados. Meus Pais preocupados perguntam o que aconteceu... Não respondo. Tenho medo que se chateiem, e acabam se esquecendo.
Outro dia começou. O mesmo ciclo...
Passei e me gritaram. Não olhei, se aproximaram, tocaram em meu ombro, mas consegui correr. O dia vai ser longo, pensei. No pátio: Me zuaram, me agrediram, me incomodaram.
Eu não tinha mais qualquer voz para dizer para não fazerem mais aquilo. Em minha volta todos pareciam não se importar. Acabei não me importando. Não contando para ninguém.
Eu não tinha mais qualquer voz para dizer para não fazerem mais aquilo. Em minha volta todos pareciam não se importar. Acabei não me importando. Não contando para ninguém.
Toca o sinal, enfim, o caminho de casa!
A caminho, passei, e me gritaram. Não olhei, mas me acompanharam. Agora gritando em meus ouvidos xingamentos, e novamente me agredindo. Corri o máximo que pude, mas correram também. Tropecei, acabei caindo, e me chutaram. Comecei a gritar, comerciantes me ajudaram e eles, enfim, me deixaram em paz.
Com os olhos chorosos, com as roupas sujas, com hematomas, chego a minha casa. Meus Pais preocupados me questionaram o que estava acontecendo. Chorei muito. Acabei os abraçando. Mas não disse nada. Tinha medo que acabassem se chateando. Queria ser corajoso como eles!
Mais um dia iniciou. E não consegui dormir. Vesti meu uniforme, tomei meu café, fui para a escola. Sem coragem, sem vontade, mas com muito medo. Nos meus 30 minutos seguintes pensei: Devo ser forte como meus Pais!
Então, estufei o peito, fechei os punhos, e segui confiante na caminhada que separava minha casa do INFERNO. Estranho. Mas não havia ninguém em seus postos hoje. Entrei feliz na escola, o dia prometia ser diferente, e de fato foi.
Intervalo!
Intervalo!
Desço para um lanche. Saboreio meu pão preparado com amor como nunca havia saboreado antes. Não há ninguém por perto. Pela primeira vez em anos ouço apenas o som do meu mastigar, e não dos xingamentos. Onde estão todos? Pensei.
A verdade é que eu não quero saber.
Sigo para o banheiro, o intervalo está quase acabando. Só não havia percebido que naquele dia eles agiram em silêncio. Me observaram e me seguiram. Aguardaram a oportunidade “certa”. E não me lembro ao certo o que aconteceu nos momentos seguintes.
A verdade é eu não quero lembrar.
Quem acabou escrevendo minha história depois, quer dizer, a história do Peterson foi outra pessoa. Mas deixa-me acabar primeiro...
Foram cinco, os garotos que me agrediram. Apanhei por alguns longos minutos. O suficiente para um aneurisma cerebral, uma parada cardiorrespiratória, e um coma. Disseram que me bateram por eu ter Pais. Quer dizer, dois Pais. Me disseram que me bateram porque é errado ter dois Pais. Me disseram que esse amor não servia. Mas acontece que somente o amor deles eu conhecia. Acabei pensando em meio aos chutes, socos, e pisões na cabeça: Quais outros amores posso conhecer? Tenho apenas 14 anos.
E a verdade é que isso me bastava.
Mas, acabei morrendo.
Mas, acabei morrendo.
Sem ter a chance de ser tão corajoso quanto meus Pais.
por Jota Marques
por Jota Marques
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