O bordel Masculino de Cleveland Street: o maior escândalo gay da monarquia britânica


Hoje iremos contar uma história verídica da descoberta no ano de 1889 de um bordel masculino no bairro londrino de Fitzrovia. Todo gay que gosta de saber das histórias acerca da homossexualidade deve conhecer essa história, para poder derrubar a tese de alguns fundamentalistas em dizer que a homossexualidade é uma “modinha”.

O Bordel foi descoberto por causa de um jovem de 15 anos chamado Charles Thomas Swinscow, pego com quatorze xelins, o equivalente a várias semanas de seu salário como mensageiro dos Correios. Suspeitando que o rapaz estivesse envolvido em um roubo que aconteceu nos Correios, interrogaram-no. Após hesitar, Swinscow admitiu ter ganhado o dinheiro trabalhando como prostituto para um homem chamado Charles Hammond, que operava um bordel masculino no número 19 da Cleveland Street, naquela época, atos sexuais entre homens eram ilegais no Reino Unido, e os clientes de bordéis enfrentavam possíveis processos criminais e certo ostracismo social se descobertos. Dizia-se que um dos clientes do bordel era o Príncipe Alberto Victor, que era o filho mais velho do Príncipe de Gales e segundo na linha de sucessão ao trono britânico. O governo foi acusado de encobrir o escândalo para proteger os nomes dos aristocratas envolvidos.


De acordo com Swinscow, ele foi apresentado a Hammond por um funcionário dos Correios de 18 anos de idade chamado Henry Newlove. Além disso, ele revelou os nomes de dois outros meninos de dezessete anos de idade, também mensageiros de telégrafo, que trabalhavam para o mesmo. Um dos clientes, Lord Arthur Somerset, era escudeiro do Príncipe de Gales. Ele e o gerente do bordel, Charles Hammond, conseguiram fugir para o exterior antes da apresentação formal das acusações contra eles. Os garotos de programa, que também trabalhavam como mensageiros de telégrafo nos Correios, foram condenados a penas leves e os clientes não foram processados. Após Henry James FitzRoy, Conde de Euston, ser apontado pela imprensa como um dos clientes, ele moveu um processo contra os jornais por difamação. A imprensa britânica nunca apontou o príncipe Alberto Victor como frequentador do bordel e não há provas de que ele tenha visitado o local, mas os rumores de que ele teria participado do incidente sempre existiram.

O escândalo alimentou as percepções de que a homossexualidade masculina era um vício aristocrático que corrompia os jovens de classe baixa. Tais percepções ainda eram prevalentes em 1895, quando o Marquês de Queensberry acusou Oscar Wilde de ser um homossexual ativo. Wilde processou Queensberry por calúnia, mas o seu processo entrou em colapso. Ele foi preso, considerado culpado de indecência, e condenado a dois anos de trabalho forçado.

Como a imprensa mal cobriu o caso, a história teria desaparecido rapidamente da memória do público, não fosse o jornalista Ernest Parke. Editor do obscuro semanal radical “The North London Press”, que ficou sabendo do caso quando um de seus repórteres trouxe-lhe a história da condenação de Newlove. Parke começou a questionar por que os prostitutos tinham recebidos sentenças tão leves (a pena habitual para “atentado violento ao pudor” era de dois anos) e como Hammond tinha sido capaz de evitar sua prisão. Conforme sua curiosidade crescia, Parke descobriu que os prostitutos tinham revelado os nomes de aristocratas proeminentes. Em seguida, ele publicou uma reportagem insinuando o envolvimento desses aristocratas, mas sem publicar os nomes deles. Em 16 de novembro do mesmo ano ele publicou uma matéria mencionando especificamente Henry Fitzroy, Conde de Euston, em “um escândalo indescritivelmente repugnante em Cleveland Street”. Ele ainda afirmou que o Conde de Euston teria fugido para o Peru e que foi autorizado a sair do país para encobrir o envolvimento de uma pessoa de status social mais elevado.

Pela publicação Parke foi condenado e preso. O interesse público no escândalo eventualmente desapareceu. A cobertura jornalística reforçou a visão negativa sobre a homossexualidade masculina como um vício aristocrático, apresentando os mensageiros telegráficos como corrompidos e explorados pelos membros da classe superior. Esta atitude atingiu o seu clímax alguns anos mais tarde, quando Oscar Wilde foi julgado por atentado violento ao pudor como o resultado de seu romance com Lord Alfred Douglas.



O próprio Wilde fez alusão ao caso em O Retrato de Dorian Gray, originalmente publicado em 1890. As críticas ao romance foram hostis; em clara referência ao escândalo da Cleveland Street, um crítico chamou-o de adequado para “ninguém além de nobres fora da lei e mensageiros telegráficos pervertidos”. A revisão que Wilde fez em 1891 omitiu certas passagens-chave do romance, que foram consideradas muito homoeróticas.Em 1895, Wilde processou, sem sucesso, o pai de Alfred, o Marquês de Queensberry, por difamação. Sir Edward Carson, conselheiro do Marquês, usou citações do romance contra Wilde e questionou-o sobre suas relações com jovens trabalhadores. Após o fracasso de seu processo, Wilde foi acusado de atentado violento ao pudor, considerado culpado e condenado a dois anos de trabalho forçado.

O Escândalo fez com que vários fossem presos por sodomia, e alguns fugiram do país com muito medo de descobrirem a sua homossexualidade, que naquele tempo ainda era tido como doença e algo abominável. Vários dos homens que andavam com Oscar Wilde tinham relações sexuais com ele, mas preferiam ficar no anonimato.O principe de Gales apesar dos boatos sobre a homossexualidade e o seu caso no Bordel da Cleveland Street, não sofreu tanto com o escândalo, mas em sua biografia é dito que ele era bissexual, tinha relações com homens e na cama quando com mulheres era visto como “ardentemente heterossexual”.

Moral da História: A homossexualidade sempre existiu, mas em alguns casos era escondida por medo da sociedade, os pobre como os mensageiros dos telégrafos eram condenados e as vezes até mortos por causa da sua orientação sexual. Já os ricos, sempre diziam ser uma calúnia quando eram pegos tendo relações sexuais com outros homens. A cena atual dos homossexuais, mostra os avanços que temos tido, e por isso muitas dessas pessoas, assumem a sua homossexualidade. Não é que agora é uma “moda”, é que agora a homossexualidade é debatida e é mais aceita do que séculos atrás.




por Liga Gay 
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1 comentários:

  1. Excelente texto, excelente contribuição para o entendimento da existência da homossexualidade em meio às várias classes sociais e tempos passados, o que desfaz o mito da homossexualidade como modismo, tendência da hora e opção sexual.
    Que nós leitores e defensores da causa sejamos privilegiados com mais textos semelhantes a esse.
    Parabéns!

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