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Aqui a nudez não é para vender cerveja nem carro,não é para submissão e
competitividade de gênero,portanto compreendo a censura.
Publico novamente e que ele atinja o seu objetivo: o de libertar e empoderar todas as mulheres que o lerem,assim seja.
Vamos nós denunciar o Facebook.
Compartilhem!
"É preciso ter coragem de estar sozinha também. E sobre isso ninguém
nos ensinou. Ninguém vai nos ensinar. Há uma normatividade rígida se
impondo sobre a afetividade feminina, mas dessa vez não fala de
castração. Simula liberação. Para que ela se efetive, é preciso produzir
em massa uma ansiedade quanto ao sexo, um desespero por parceiros, uma
incompletude que nos rouba de nosso protagonismo e nos aprisiona – sendo
esse o mesmo mecanismo da sensação de insuficiência física produzida
pela ditadura estética e da sensação de insuficiência emocional
produzida pela cultura romântica. A quem a insuficiência sexual está
servindo? A quem o patriarcado serve. Falar disso, embora seja
claramente um questionamento sobre até que ponto nossos corpos e
sentimentos são realmente e apenas nossos, fatalmente soará como
moralismo. É assim que querem que vejamos.
Antes de tudo,
devemos admitir que as meninas fazem sexo cada vez mais cedo e que isso
reflete um problema grave de gênero, uma vez que não fazem por mero
instinto, mas porque há toda uma cultura que prega a obrigatoriedade da
vida sexual. Independentemente de a infância ser uma construção
histórica, a sua abreviação contemporânea é um interesse mercadológico.
Elas fazem sexo para não se sentir socialmente inadequadas. A quantidade
de vídeos de revenge porn de adolescentes tomando as redes sociais, a
quantidade de letras de música falando de “novinhas” e o investimento
pesado da indústria e da mídia na erotização infantil demonstram que há
toda uma legislação subjetiva determinando a hipersexualização da mulher
desde muito cedo.
Tudo à nossa volta constrange, impele, coage
para o sexo. Mostrar-se sexualmente ativa, intensa e frequente é
garantia de privilégios. Ora, o patriarcado é sobre sermos coadjuvantes:
dos processos políticos e de nossas vidas. À frente, sempre a figura
masculina, determinando o nosso manuseio correto. Logo, não só os homens
gozam de um conjunto de privilégios, é preciso também “conceder”
aparentes benefícios às mulheres, incentivando a competição entre elas,
para que elas acreditem que há alguma forma de premiação dentro desse
sistema. E as mulheres são “premiadas” segundo diferentes critérios:
submissão aos padrões de beleza, ajuste à moral e aos costumes (mulheres
relacionáveis), disposição sexual e capacidade de proporcionar prazer
ao homem (mulheres consumíveis)…
Na contemporaneidade líquida, os
falsos privilégios femininos estão ligados especialmente ao consumo
sexual, de modo que as mulheres precisam comprovar que são livres, donas
de seus corpos e bem-resolvidas, mantendo uma aura de autonomia. Essa
autonomia sexual precisa ser aparente, não pode representar, em hipótese
alguma, uma ruptura com o patriarcado, ela é uma ficção de uso, uma
licença. A apropriação da homoafetividade feminina como fetiche é um
exemplo de como a liberdade sexual feminina é encarada como uma
concessão. Essa autonomia também vende o produto feminino com uma
garantia de blindagem emocional: a mulher bem resolvida dá menos
trabalho, não precisa de tantos cuidados no trato, não se melindra com
qualquer gestozinho agressivo, não demanda tanto desgaste na sua
administração.
É interessante para o patriarcado que a nossa
sexualidade seja estimulante, garantindo o entretenimento em longo prazo
ou o descarte imediato, como todo bem de consumo. Quase nos esquecemos
de que existimos para nós, quase nos condenamos a bobas da corte. Agora
somos máquinas de prazer. Democratizamos e afirmamos, assim, o sexo como
mercado: somos todas profissionais de alguma maneira, eis o sonho
machista realizado. O que não representa, de modo algum, a
problematização da pornografia ou a libertação da mulher em situação de
prostituição, ela permanece segregada e violável.
Resta claro
como o patriarcado subverte os nossos processos e rouba a cena que
jurávamos protagonizar. Quantas outras causas pensamos alavancar e
correm esse mesmo risco? Ou já foram sequestradas e ainda não
percebemos? Diante de um sistema que corrompe e usurpa até mesmo a idéia
de empoderamento por meio de uma sexualidade mais livre em prol do
prazer masculino, o que parece definitivamente libertário? Respondo: o
triunfo sobre essa ansiedade por parceiros e pela consagração sexual
dentro do jogo de falsos privilégios dados à mulher. É no estado de
solitude que essa solidão devastadora e insaciável perde a força. É
quando tomamos coragem de romper com a obrigatoriedade de um parceiro,
com esse desespero por companhia e afirmação sexual que finalmente
podemos empregar a nossa energia em atividades diversas, que nos
permitam tomar o mundo, que nos apresentem uma perspectiva de igualdade
de gênero a respirar fora da guerra dos sexos. Ou o contrário: é quando
empregamos a nossa energia em atividades que nos façam tomar o mundo,
que nos apresentem uma perspectiva de igualdade de gênero respirando
fora da guerra dos sexos, que tomamos coragem de romper com a
obrigatoriedade de um parceiro, com esse desespero por companhia.
De qualquer modo, é preciso autoconhecimento. A nossa intimidade sempre
foi objeto de disputa e controle, nunca nos pertenceu. Parece
improvável que realmente a gente venha a conhecer relações mais
saudáveis e justas sem que haja uma retomada e reconhecimento dessa
intimidade, para que nunca mais fique ao cálculo dos interesses
culturais, sociais e econômicos traçados pela supremacia masculina.
Precisamos nos explorar mais, somos um universo desconhecido para nós
mesmas. Aprender a ficar só e a ser por inteiro, virando o tabuleiro da
manipulação afetiva e sexual, pode ser um passo determinante para nos
desintoxicar de séculos viciadas em submissão, competição e aprovação.
Se mesmo o nosso protagonismo em algumas questões pode ser uma ilusão de
ótica, aprender a estar consigo e a preencher-se de companhias não
sexuais (notem como a sororidade é imprescindível), de objetivos que nos
obriguem a ir além de nós e que restaurem o óbvio – não somos as nossas
emoções, NÓS TEMOS AS NOSSAS EMOÇÕES – podem ser os únicos passos
concretos para a descolonização e autodeterminação femininas."
Maria Gabriela Saldanha
Imagem: Isa Sanz
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/ Essa mensagem foi censurada pelo facebook... talvez porque não estão vendendo cerveja, nem carros, nem cigarro...
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